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A Fronteira- Parte 1

  • Equipe Diálogos
  • 24 de jun. de 2016
  • 2 min de leitura

Buenas, galera!

A partir desta postagem, estaremos apresentando para vocês o projeto "A Fronteira", onde faremos vários posts durante uma semana sobre essa temática, procurando dar diferentes pontos de vista.

Esperamos que vocês curtam a sequência da mesma forma que nós curtimos produzir!

A FRONTEIRA- PARTE 1

Moro em uma cidade no interior do Rio Grande que faz fronteira com a República Uruguaia. Poucos quilômetros daqui existe outro município que faz fronteira seca “con una ciudad uruguaya”, onde os dois países se juntam, na língua, no povo, na fé, na tradição e na economia.

Há poucos dias eu estava lá, em Livramento, e apreciava o artesanato na praça central. Estava encantado com os artigos em couro e com uma cuia com o desenho do mapa da América Latina que minha mãe – tenho certeza - adoraria ganhar. Enquanto eu “tentiava” o Tchê da banca para baixar em alguns pilas o preço da cuia que já estava na minha mão, um cachorro, que provavelmente era de rua, beijara meus dedos, por certo pedindo comida, ou talvez encantado com a beleza do porongo que não agradara somente a mim. Como eu estava concentrado no negócio, reagi ao beijo da seguinte forma: “Pra fora, cachorro!”

Depois da compra feita e da cuia guardada com carinho na mochila, voltei a procurar, agora com compaixão e um certo arrependimento, o cachorro que havia me saudado de uma maneira tão afetuosa. Depois de rastrear com o olhar avistei, lá no lado dos paysanos, uma senhora sentada na mesa de uma lanchonete que gritava:

-Perro malo! Casi lleva um pedazo de mi pancho!

Era o guaipeca carinhoso que já havia passado a linha, ou melhor, atravessado a rua, e que, na sua inocência, queria ter o pão partilhado.

Fiquei pensando se aquele animal entendia o porquê de no mesmo lugar ser chamado de formas diferentes... Por que o guri da cuia o chamava de cachorro e a senhora do pancho o chamava de perro? Provavelmente o cusco morava ali mesmo, no calçadão da praça internacional, e por vezes dormia abrigado entre uma bandeira verde amarela e outra que o esquentava com um sol listrado de azul e branco.

Sentei na grama da praça, perto do marco, para descansar um pouco. Dali conseguia ouvir um som debochado que vinha dos camelôs ali de perto. Era Chito de Mello que, no dialeto da fronteira, cantava: "En la frontera hablamos diferente, Los literato quedan asombráo, Si es en Santana se dice: cemente, Pero, se miya en el otro la ´o, Y da lo mismo pollera que sáia, Y es un lagandáia cualquier relajáo”

Enquanto refletia toda aquela situação, algo me chamou atenção no céu da fronteira: Fazendo um mosaico sob um céu azul de fim de tarde sem igual, pássaros bailavam sob a praça, escolhendo qual seria a melhor árvore para servir de abrigo para a noite que se aproximava. Neste momento, não fazia a menor importância qual era a latitude e a longitude da copa mais abrigada, eles estavam livres para bem escolher onde iriam fazer sua morada sem a preocupação de estar portando seus documentos. O par de asas bastava...

Tudo isso na Banda Oriental.

 
 
 

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