A astuciosa lógica dos que condenam manifestações fazendo-se de democratas*
- Por Juremir Machado
- 20 de jun. de 2016
- 2 min de leitura

Há um discurso ardiloso contra manifestantes. Esse discurso nunca se opõe diretamente à liberdade de manifestação. Mas contra a forma de se manifestar. Jamais se ocupa da causa das manifestações. Sempre dos efeitos. Não se interessa em fazer perguntas simples:
Por que estudantes foram obrigados a ocupar escolas?
Por que professores foram obrigados a ocupar o CAFF?
Por que estudantes ocuparam o prédio da Fazenda?
Quem criou a má qualidades das escolas (chove dentro, faltam professores, as instalações são precárias…)?
O antimanifestante só pensa em si.
Pratica um egoísmo repressivo Discurso extremista, denuncia o suposto extremismo dos manifestantes.
Por que eles precisam atrapalhar o trânsito?
Por que não andam pelas calçadas?
Por que invadem prédios públicos?
Uma manifestação só surte efeito se provocar algum incômodo. O resto é utopia ou enrolação de quem pretende manipular os insatisfeito. Desatendido, ignorado, sem negociação, o manifestante é obrigado a adotar ações que despertem a sociedade do seu marasmo. Na Europa, que os antimanifestantes adoram citar como exemplo de tudo, manifestações bloqueiam estradas, ocupam prédios e queimam carros. A polícia negocia e reprime. Parte da grande mídia, condena. Outra parte, busca compreender as causas. Aqui, a mídia sempre condena. Salvo exceções. O ideal é o manifestante humilde, chamado de sensato.
É um discurso do poder. Mostra uma visão autoritária. Vereadores, deputados, secretários de Estado, prefeitos e governadores têm seus salários corrigidos em parcela única. Funcionários são “convidados” a aceitar parcelamento. A justiça cuida primeiro do seu pirão. Paga-se polpudos auxílios. É lenta. Salvo para julgar interesses de antimanifestantes e determinar reintegrações de posse de prédios públicos. A mídia conservadora reverbera solene:
É crime invadir prédio público.
Crime como estratégia de dissuasão. Na hora, precisa negociar. É acontecimento político derivado de ações ou inações políticas. Transformar justas reivindicações sociais em casos de polícia é uma velha ideologia conservadora. Mandar para o Presídio Central quem entrou num prédio público para se fazer ouvir por uma burocracia indiferente é aplicar pena de morte por infração de trânsito. Outra astúcia é transformar funcionário público em “corporação”. Tem membro de “corporação” ganhando menos do que salário mínimo. Corporação é a dos magistrados. Coisa assim. A lei é a lei, dizem os “sensatos”. A lei do piso do magistério não é cumprida. Quem se lembra disso?
Não há democracia sem entropia.
A ordem perfeita é a dos cemitérios.
* Texto publicado originalmente no blog do autor, no dia 17 de junho de 2016.
Fonte: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/
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